quarta-feira, 17 de novembro de 2010

DiáLivros: O ferrageiro de Carmona

O ferrageiro de Carmona

Um ferrageiro de Carmona,

que me informava de um balcão:

"Aquilo? É de ferro fundido,

foi a forma que fez, não a mão.

Só trabalho em ferro forjado

que é quando se trabalha ferro

então, corpo a corpo com ele,

domo-o, dobro-o, até o onde quero.

O ferro fundido é sem luta

é só derramá-lo na forma.

Não há nele a queda de braço

e o cara a cara de uma forja.

Existe a grande diferença

do ferro forjado ao fundido:

é uma distância tão enorme

que não pode medir-se a gritos.

Conhece a Giralda, em Sevilha?

De certo subiu lá em cima.

Reparou nas flores de ferro

dos quatro jarros das esquinas?

Pois aquilo é ferro forjado.

Flores criadas numa outra língua.

Nada têm das flores de forma,

moldadas pelas das campinas.

Dou-lhe aqui humilde receita,

Ao senhor que dizem ser poeta:

O ferro não deve fundir-se

nem deve a voz ter diarréia.

Forjar: domar o ferro à força,

Não até uma flor já sabida,

Mas ao que pode até ser flor

Se flor parece a quem o diga.


João Cabral de Melo Neto


Esse texto me inspirou muito na hora da minha postagem.Além de ter haver com o tema da  2º edição do Diálivros,ele também fala de como é feita a criação de um poeta. O texto fala de como um poeta faz a sua poesia, como ele dá a forma desejada. Simplesmente, escrever não é o bastante, mas sim expressar o que você quer dizer através das palavras.


Leonam Monteiro

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